quinta-feira, 3 de junho de 2010

Los Muertos- Lisandro Alonso


Há poucas palavras com a mesma força telúrica dos planos iniciais de Los Muertos, de Lisandro Alonso. Trata-se de uma iniciação à força fantasmática da natureza, em tudo o que esta tem de poderoso e arrepiante, numa deambulação atmosférica, desfocada, fantasmagórica que nos dá a floresta que acomoda os primeiros mortos do filme. Pausa. Venha a realidade, se faz favor. Nesta, Vargas, um homem com perto de sessenta anos, de semblante introspectivo, trabalha em carpintaria e come sozinho esperando o momento da sua libertação. Por mais celas, grades ou jogos de futebol no pátio comum, a “prisão” de Alonso, a de Vargas, é sempre um espaço de liberdade. Esta é a primeira das inversões de expectativas do filme. Outras se seguirão.

Vargas sai e vai iniciar uma viagem de regresso à sua terra para se juntar à mulher e filha. Neste regresso, Vargas cumpre a promessa de entregar uma carta à filha de um outro recluso, compra doces e roupas para a sua própria filha, da qual não sabe bem a idade, antes de iniciar longa viagem de canoa pelo interior da floresta. O deslocamento realista do cenário natural, este sim filmado de forma serena e aprisionante, vai construindo, com imagens órfãs, os outros “mortos” da obra de Alonso: a realidade que deixou não é mais aquela que sobrevive, a não ser na sua memória pessoal. A morte dessa realidade, dessa expectativa, é a força do cinema de Alonso, cineasta que filma o regresso como se de um início se tratasse.

1 comentário:

  1. Estou fazendo uma pesquisa sobre o diretor Lisando Alonso e como foi bom acahar seu texto sobre Los Muertos". Parabéns pelo blog, que achei sem querer e virei fã. Abs.

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