quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma sala em ruínas e lá dentro a felicidade


No interior da Zona há uma sala com acesso à felicidade. A sala está em ruínas, o exterior penetra o interior, como é comum no universo Tarkovsky. Uma vez lá chegados, no final de STALKER, o professor antecipa os efeitos nefastos da felicidade e quer destruir o acesso a ela. O poeta, em busca de inspiração, não acredita que aquilo possa ser verdadeiro e pretende deixar que o professor «destrua» o espaço da felicidade. Só o guia de ambos, o stalker, fica devastado com a atitude dos dois e não suporta a ideia de que ninguém acredite em nada. Bem vistas as coisas, a ciência não suporta a ideia da felicidade poder cair em mãos erradas. Por seu lado, a arte não sobreviveria na felicidade. Ela ao menos tem de poder não entrar na sala e refutar a ideia de felicidade, para que possa buscá-la incessantemente. É o stalker, que vive de explorar a ideia de felicidade dos outros, que a mercantiliza, só ele percebe que sem aquilo, não há nada a que se possa recorrer. Que sem a felicidade, a ideia da perfeição do mundo pós-apocalíptico, religioso, económico, humanista, altruísta, seria insuportável. Por isso, o stalker não consegue dormir. Por isso, a esposa tem de lhe deitar um comprimido pela goela abaixo. Por vezes, há sítios, arquitecturas do interior, que para nunca termos de as visitar, temos de as manter intactas, imponentes, numa existência longínqua e duvidosa.

2 comentários:

  1. a obra de Tarkovski não é de fácil análise.
    E o Stalker é dos filmes mais complexos, por esse motivo acho esta sua análise muito interessante.

    http://numfilmedegodard.blogspot.com/

    ResponderEliminar