domingo, 28 de dezembro de 2014

Os 10 melhores filmes de 2014

  1. E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto
  2. Mommy de Xavier Dolan
  3. The Congress de Ari Folman
  4. The Immigrant de James Gray
  5. Història de la meva mort de Albert Serra
  6. Maps to the Stars de David Cronenberg
  7. Only Lovers Left Alive de Jim Jarmusch
  8. L’image manquante de Rithy Panh
  9. The Babadook de Jennifer Kent
  10. Boyhood de Richard Linklater
Cada vez que tenho de fazer um top de qualquer coisa vem-me sempre à cabeça que o ano que colocamos a seguir à expressão “top” é tão importante quando esta. Isto para dizer que há algo de prospectivo nesta tarefa respigadora: por que filmes queremos nós que cada ano se recorde? Se acreditarmos que a lógica de mais um ano, corresponde a um avanço (mas não necessariamente melhor, como com os ideólogos do progresso) então há que ter o terceiro olho aberto para esses sinais de movimento, de um sítio para outro, neste caso de 2013 para 2014. É neste sentido que não me revejo inteiramente na posição maioritária que coloca sistematicamente no top apenas filmes que recuperam, declinam ou actualizam o cânone. Como se no futuro estivéssemos condenados a apreciar somente a grandeza de John Ford ou a astúcia de Hitchcock (e os “bons alunos” que a eles se colam) ad aeternum. Paradoxo de um cânone imóvel da arte das imagens em movimento. Contudo, pur si muove. Este intróito explica o raciocínio que me leva a deixar de fora filmes que assentam na “solidez narrativa”, no “desenvolvimento das personagens” ou “re-aquecem um determinado clima cinematográfico”. Curto e grosso: Fincher, Garrel, Reichardt, Leigh, Vítor Gonçalves, mesmo Wes Anderson desta vez, este ano assinaram todos bons filmes (alguns dos quais gosto genuinamente, por exemplo A Vida Invisível é um deles) mas promovem, pelo seu estilo, valores, posição, uma certa imobilidade do cânone contra a qual eu me bato e é e por isso que ficam de fora.


O ano foi muito melhor do que a “seca” do ano anterior. Tendo ainda por ver alguns filmes que pelo buzz poderiam ter assento nesta tribuna – como são os casos do celebérrimo Cavalo Dinheiro de Pedro Costa, os últimos dois filmes do já saudoso Alain Resnais ou o genial-ignóbil Joshua Oppenheimer – nunca mais me saiu da memória o caderno de apontamentos do Joaquim (e do Nuno) como alguém que podia estar a trabalhar sobre a exaustão, até por ser um tema recorrente do ano (Cronenberg, Jarmusch, Folman), mas decidiu filmar a vitalidade do quotidiano com uma honestidade difícil de esquecer. E é por que não me esqueço dele, porque o lembro, que está no topo. Outros temas do ano: a maternidade ou a animação como um espaço do desancantamento. No primeiro, Xavier Dolan assinou um filme incrível, sobre uma mãe que tem de lidar com um filho hiperactivo. O mais extraordinário num jovem de 25 anos já com 5 longas-metragens é essa indiferença perante os que criticam, cononicamente, a sua “vaidade” e excessiva experimentação. The Babadook é o filme de terror do ano sobre a simetria dos sustos na infância e na idade adulta. A maternidade e paternidade é ainda também parte do tema do filme de Linklater (um cineasta que nem gosto particularmente) mas que inaugura um método “esquizofrénico” de produção e que tem de ver esse esforço inaudito premiado. Sobre o segundo tema, o contraste entre a falta de imagens, o excesso de mortes e a candura dos bonecos de argila de Rithy Panh colocam os sentimentos de qualquer espectador num milk shaker do qual já não se sai direito. The Congress é um filme visionário, intenso, sensível que continua a pontuar a angústia da desmaterialização, desta feita no cinema. (Reparei que não tenho espaço para louvar o “melhor cineasta do mundo”, Albert Serra, mas não faz mal pois ele sabe fazer isso bastante bem.)

(publicado em À pala de Walsh)

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