segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Carpenter só pode ser demente (e ainda bem)

Foi só no último plano de Dark Star, em que Doolittle pega num destroço da nave e vai a surfar para a morte como uma estrela cadente em direcção a um planeta vermelho que parece pintado a caneta de feltro, que me voltei a lembrar de como a primeira longa de Carpenter é um delírio absurdo e genial. De resto, como todos os grandes delírios. Durante o filme há tanta coisa a acontecer que nem se dá por nada. É como aquelas anestesias temporárias. Quando puxo a cassete atrás e penso nos diálogos entre o nihilismo de Beckett e o macho love de Hawks, no prenúncio de Alien num killer tomato - bola de praia com patinhas, na falta de memória como se fosse Sokurov na zona, no morto-vivo criogenado e nas "bofetadas" a Kubrick, com a sua bomba a fazer as vezes do Hal 9000, e a Nolan, em que o uso do "do not do gentle into that good night" ao serviço de um humanismo parvinho é substituído pelo ensino da dúvida cartesiana à dita bomba -  é impossível não se cair em si. Tudo somado é obra. Não restam dúvidas: Dark Star é obra de um demente. Ou então, é obra de um génio.

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