quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Projecto Civilizacional

O que disse é bastante lógico, aparentemente. Mas na época em que Jack Lang foi ministro da Cultura [1981-86 e 1988-1993], a situação económica do cinema era bastante negativa. A frequência das salas de cinema entrou em declínio, e tornou-se mais difícil conseguir dinheiro para o cinema. E no entanto foi o período mais dinâmico em termos de criação de novos mecanismos. Existe uma longa tradição em França de defesa da cultura pelo Estado. Um fenómeno interessante é que esse debate ultrapassa a oposição direita-esquerda. Até ao momento, tanto os governos de direita quanto os de esquerda consideraram que era responsabilidade do Estado e uma coisa positiva para o país defender a sua cultura com todos os meios à sua disposição. O primeiro artesão dessa ideia foi o escritor André Malraux, ministro da Cultura do General De Gaulle. Que, no interior desse governo de direita, pôs em prática uma política que em quase todo o mundo seria considerada de esquerda. Temos uma história longa. As negociações internacionais do GATT [no qual a França invoca a sua “excepção cultural” para excluir as indústrias audiovisuais do acordo de comércio livre] começam com um ministro da Cultura de esquerda [Lang] e continuam com um ministro da Cultura de direita [Jacques Toubon] e isso não altera nada nas negociações. Há um consenso profundo. Se um dia a situação económica for má, penso que se dirá que é preciso ajudar ainda mais o cinema. O cinema conquistou uma espécie de classe no mundo das artes e da cultura, a par da literatura, da música, do teatro. Considera-se que mesmo que não tenha um sucesso económico enorme, é importante, faz parte da identidade nacional, faz parte do projecto civilizacional da França. Pelo menos até agora tem sido assim.

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