terça-feira, 25 de julho de 2017

   "O que Lotte Eisner significa para nós hoje não se poderia prever no início da sua vida. Ainda hoje ela está zangada com a mãe por não ter nascido rapaz nem pele-vermelha. Aos cinco anos lia Karl-May e queria ser um pele-vermelha. Com tapetes construía uma tenda e cortava o escalpe às bonecas. Os mitos da antiguidade clássica atraíam-na, e isto numa idade em que a maior parte as crianças ainda não sabe ler. Mais tarde, nos bancos da escola, lia Dostoiévski. Tornou-se arqueóloga e historiadora de arte, e hoje, por caminhos inesperados, é outra vez uma espécie de arqueóloga. Alguém que faz descobertas e traz os seus achados à luz do dia. Uma amiga da escola falou-lhe de um rapaz amável que queria ser escritor. Num caderno da escola tinha escrito à mão uma peça de teatro, e ela deveria lê-lo, pois a amiga não percebia nada de literatura mas dizia que, se valesse alguma coisa, queria namorar com ele. A pela intitulava-se Baal. “Ouve”, disse Lotte Eisner depois de ter lido o texto durante a noite, “este homem será o melhor escritor da Alemanha!” Nesse tempo o escritor ainda não se chamava Bertold, mas sim Eugen. Corria o ano de 1921.”

     Werner Herzog in "Caminhar na Gelo"

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